15.7.06

semáforo


Vermelho. Verde. Amarelo. Vermelho. Verde. No mesmo tempo, na mesma intensidade que de tarde, sem alegria. A rua deserta esconde em cada calçada, sarjetas e asfalto os carros dormentes. Não há mover. Amarelo. Atento a qualquer parca movimentação, o sinal pára atenciosamente, escuta folha corrente, brisa descuidada, papel de lixo que voa sem preocupação e antes de mudar de sinal se pergunta “onde estão os carros?”. Verde. É madrugada. Como nos estalos de nossos corpos que ouvimos no mais tenso silêncio. Cada movimento sem carro que o semáforo faz é pautado de compasso sério, rígido e marchante. Amarelo. Conselho de mãe. Filho leve o guarda-chuva. Não ande de noite na rua. O sereno. Nesses tempos de violência, fica em casa, filho! Filho já foi. É saído. Do portão ainda escuta os ecos da voz vinda da cozinha. A volta ainda permanece nos tons da mãe. E pensa que pela voz rouca ela deve ter passado a noite toda, vermelho, amarelo, verde.Verde. Pensa em todos os conselhos dados sem ouvidos. Pensa em tanto que ele mesmo já brisou no vento da madrugado. O quanto deve de trocar de sinal à alguém aparecer e parar. Mas os carros não param no semáforo de madrugada. Amarelo. Fica todo atento, mas definitivamente eles não param. Vermelho. O semáforo deve ser uma mãe que de tanto falar, perdeu voz, virou luz, entrou na madrugada para zelar o filho que passa correndo pela rua. Verde.

 
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