19.12.06

mp3 (ou crônica para escutar no ipod)

god save the queen. saio de casa cedo. cabelo molhado, gel, mochila e o essencial para voltar no meiar da noite. há algum tempo passei a usar um mp3. à noite, seleciono a trilha sonora do dia seguinte. preparo pilha e fone de ouvido. de manhã, basta um toque e o mundo ganha som. god save the hostory. intercalo as paisagens vistas pela janela do ônibus à la heavy metal e punk rock. a trilha quase sempre desconexa com a paisagem dá charme especial. oh lord god have mercy...

então passei a reparar a enormidade de pessoas que perambulam pela cidade com os fones pendurados no ouvido. drive my car into the ocean. e ouço pessoas passando pela avenida paulista ao som de debussy, ou atravesso o largo da concórdia com açúcar e com afeto e tanta gente com aquele fiozinho pendurado entre as orelhas. on a wave of muti...

bom dia. oi. i've kissed mermaids.rode the licença el nino. desculpa incomodar. oi. walked. moça. the sand. esses dias vi no metrô uma senhora levar alguns minutos para se fazer ouvir pela mocinha que ocupava seu assento preferencial. a menina tira o tapa-ruído, levanta as sobrancelhas, arregala os olhos. a senhora começa tudo de novo. seu cartão não passou. o rapaz tira o fone e pergunta. o que? o seu cartão... oi, que horas são por favor? oi! o boy tira os fones. que foi? as horas... wave of mutilation, wave of mutilation...

a comunicação ficou mais difícil. as pessoas sai em busca de salário têm de falar tudo dobrado. e sabe aquela vontade interiorana de conversar com a pessoa que sentou do seu lado no ônibus pra comemorar nem sei o que? esquece! ela está de mp3. é uma placa silenciosa de quem quer ficar no próprio barulho. e mundo parece ficar mais autista. vamos se enclausurando na trilha sonora do dia. a ida ao trabalho qual o que é um longo vídeo-clipe.

comecei a me angustiar vendo essas pessoas, você vem feito criança. todas tão solitárias no meio de seu mundinho, que antes já era fechado, agora vem com trilha maltrapilho, maltratado. hoje entrei no ônibus, depois de passar dez minutos tentando entender o cobrador que me pedia para dar o dinheiro a ele e descer pela porta da frente. Sentei no assento não-preferencial, tirei os fones e me senti feliz com todo aquele barulho. Sai da frente filho da puta!

 
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