28.2.08

06h

o sol se colocou na ponta do mundo pra nascer. deu uma estirada funda e jogou longe seus raios. nasceu porto, longe lá, se aportou no cais e de torpor fundo, soldado luzeiro, preguiçoso vai. uma pessoa joão acorda com a corda que o sol lhe dá pela fresta da janela. dá pulo da cama e segue zumbizando sono acordado até a mesa de café. da manhã toma um pingado pela mãe que lhe coça a cabeça em sina de bom dia. come devagar em vista do sono, veste-se em uniforme para rumar caminho cotidiano para escola. traçou nos pés o desenho de sempre e alternou pernas. tinha um intento naquela manhã.

deveria ser dia mais especial que outros. deveria ser dia em que sendo dia diferente haveria de não acontecer tudo como dia-de-sempre. pararia em cada árvore que encontrasse no caminho, e a cada uma delas faria algo diverso. olharia a cada uma como uma. e de uma-em-uma ganharia algo de bom em sua passada. seus passos seguiram.

árvore primeira balançou sombra em sua frente e como era prometido parou e sem pretensões sentou baixo. esqueceu que tinha ouvidos e olhos e sentou. folha caiu duas. pessoa pegou na mão, teve vontade de apertar, mas não tinha quase mão para fazer. não tinha corpo pra fazer mais nada de que corpo faz. tinha vontade grande no peito, tão grande que olhou fundo e no fundo sua vista embaçou, pessoa dormiu.

dormiu de primeira árvore. dormiu e sonhou, de bom tom que era a sombra, teve aconchego para chegar em sono ensonharado. pessoa tinha asas e voava entre os dedos do mundo. juntava folego, rasantes fundos nas bordas da terra e pensando em sonho como era ser de outro modo. engrandenceu sorriso, soltou caderno e lápis sozinhos. eles se desenharam, se escreviam e se apagavam em céu tela. pessoa mergulhava no mar do céu, contava as estrelas de pessoas mundo abaixo. tomava tento, atento e aceno. tomava tudo que não fosse juízo de ordens. decidiu que dali em diante, o mundo se adiantaria o quanto quisesse pra ele. joão não ía correr atrás. corria pra dentro de tudo o que era fora. os olhos aumentavam e brincava os jogos do vento. mãos fundas no céu infinito. pendurado em estrelas. balanço. mãos grudadas nas estrelas, medo de ficar árvore de cabeça virada. vontade de ficar feito balanço, ciscando pé na terra. pé na terra. segura forte e a luz das estrelas feito bolha de sabão no fim do brilho. cai. enterra...

devagar como folha que cai alto. bem de longe pessoa abriu os olhos cheios de terra. então se envergou todo, saiu em folhas de seus cabelos, parou numa esquina moribumda. ficou os pés bem firmes na terra mexida que saia do asfalto. árvore ali nunca morreu nem nasceu. árvore ficou aquela só. joão que era pessoa, que pessoa joão virou ar, varou em si mesmo fruto, folha e caule. joão virou gente grande. pessoa virou árvore.

15.2.08

é paulo.

são paulo da vida que alaga
do dia que nasce mofado
das pessoas impermeáveis.

são paulo da lida que vaga,
da noite que dorme molhada
dos carros e gripe,
das gentes paradas em semáforos.

das gentes que só vêem três cores.

 
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